Modelos da Magia e Paradigmas

Uma defesa do meta modelo e do modelo misto como fim das brigas de ego entre vocês, mortais;

Mais um batalha vencida nesse exercício hercúleo de aguentar as crenças primitivas (do outro, claro).

"Existem espíritos?"

"Sim, existem no Modelo Espiritual."

"E no Modelo Energético?"

"No Modelo Energético existe uma forma sutil de energia."

"E como é isso no Modelo Psicológico?"

"Bem, no Modelo Psicológico temos que lidar com projeções de nossa mente sub-consciente."

"Então, no Modelo Informático tem o que?"

"No Modelo Informático existem clusters de informação."

"Certo, mas isso dai é um espirito ou não?"

"No Modelo Espiritual certamente seria."

Esse tipo de conversa faz qualquer profano perder a mente na insanidade. A incapacidade das pessoas de, muitas vezes, aceitar a crença como ferramenta e não como fim em si parece dar algum pretexto sobre os praticantes da MC terem somente com isso propósitos egoístas - o que pode, a início, já nos levar ao erro de pensar que um paradigma transcendental é o correto para todos.
 Além do fato de que devemos decidir por nós o que faremos com a nossa margem de liberdade dentro das circunstâncias, existe o fato de que não conheço muitos Caotes e Caotisas que se preocupem tanto em moldar a realidade interpessoal para propósitos egoístas. Usualmente é a coisa de explorar a realidade mágica, de tirar coisas de bom para si ou mesmo para ser uma pessoa má com segurança, eficiência e estilo - sinceramente prefiro, e sinto que é mais honesto, o egoísmo ético de outra pessoa do que alguém que esconde algo perverso e obsceno por trás de palavras doces como as carambolas e suaves como a seda... Bullshit!
Essa fita não é pessoal não, Jão (ela sempre foi)!

A vida é uma pá de vezes aparentemente sem sentido e extremamente frustrante porque nosso cérebro nos obriga a observar padrões mesmo aonde eles não estão lá ou aonde deixaram de existir a algum tempo. É uma caixa de skinner com você mesmo e nos condicionamos a aceitar de forma um tanto emocional paradigmas que expliquem com um sucesso satisfatório como o mundo funciona, nos dando as coordenadas de como interagir com esse universo - seja ele um universo cristão, feminista, marxista ou tropical. Essa visão que aparenta desprovida de metafísica e beleza só nos aparenta assim porque estamos acostumados demais a aceitar nossos paradigmas conforme estes satisfazem nossas necessidades e esse é o ponto: já lidamos inconscientemente com esses paradigmas de uma forma mecanicista, não há nenhuma metafísica ou beleza no que já somos e fazemos.
Porém, existe inteligência e sabedoria na atitude de observar como esses mecanismos do nosso cérebro funcionam e utiliza-los ao nosso favor. Descrevem-se de tempos em tempos centenas de compilados sobre como a mente humana funciona, os herméticos falavam de egrégoras, Freud falava das projeções do subconsciente, mas somente os magos de cada época foram capazes de se tornarem um fator externo a este estado de reprodução cega humana e romper com as barreiras mentais de seus tempos.
É claro, sempre tem os que foram para a fogueira por causa disso!

 De certa forma, é por isso que eu não gosto de assumir paradigmas transcendentais logo de início. Quando observamos diversas das propostas de transcender o material, vemos junto disso diversas possíveis formas complexas, mas ainda assustadoras, de tornar seu Ego o seu monstro preferido de estimação. Devemos nos desapegar da noção de que nossos paradigmas e crenças vão nos salvar de algo, não há nada para sermos salvos, a não ser que queiramos ser salvos ou não de algo. Essa talvez seja a única transcendência, afinal: transcender a ideia de que estamos transcendendo algo quando agimos desta ou de outra forma. Um mago do caos utilizando mudanças de paradigmas e sistemas de crença está talvez tão preso quanto outros, mas a noção de meta crença ainda é algo como aproveitar o mínimo de realidade na ilusão - coisa incomum hoje em dia, que só se vende a ilusão separada da realidade e ambas tem gosto de isoporitos sem tempero.
 A realidade está aí para todos, quanto mais podemos ter a capacidade de entender como o mundo funciona através dos olhos de outrem, mais harmoniosa se torna nossa convivência com crenças diferentes das nossas - também passamos a observar melhor como organizamos as nossas próprias crenças em busca de inconsistências ou fontes de comportamentos indevidos.

 Aos magos do caos, recomendo que se acostumem com o hábito de trocar de paradigmas conforme estes se encaixem nos seus propósitos. Recomendo que se acostume com o meta-modelo de magia.
Além da facilidade de realizar as mais diversas formas de rituais e protocolos, existe a facilidade com que você pode adaptar estes para algum outro modelo de magia que você ache correto.
 Um bom exercício é conhecer um sistema de magia (pode ser a Umbanda, Candomblé, Wicca) e tentar explicar seus fenômenos através dos mais diversos paradigmas e modelos possíveis. Faça o mesmo com o seu sistema pessoal e perceba similaridades ou diferenças, divirta-se.


Fontes: http://www.chaosmatrix.org/library/chaos/texts/model.html
http://www.mortesubitainc.org/magia-do-caos/textos-caoticos/modelos-da-magia