terça-feira, 23 de agosto de 2016

O Livro da Cidade - Cidade sem Amor


Catedral da Sé, 10 horas da manhã, o perfume de mirra perfuma o ar. Saindo dois ou três passos daquele bastião da arquitetura sacra, o cheiro é de manteiga e água do tietê. Os anjos paulistas sentam-se sobre os beirais e parapeitos da catedral, fumando cigarro e falando do trânsito.
 Encruzilhadas sem fim. Em uma, Hermes oferece um favorecimento informacional para o espírito do Farol, permitindo que uma poderosa maga disfarçada de velhinha pegar alguns sinais abertos para buscar o neto na escola. Entre ruas sem fim repletas de sigilos gravados nas paredes, desço uma escada e encontro uma biblioteca alquímica sendo guardada por um homem espirituoso e gentil - nem tudo são flores no jardim de concreto, mas volta e meia do chão infértil brotam as mais belas flores de alumínio e plástico.






Enquanto as plantas se perguntam sobre como se livrar das bitucas, uma filha de Orishaoko usa um espaço de uma laje para plantar tudo o que quer comer. Os espíritos do tempo, cansados e confusos no coração da babilônia abandonam seus postos para mais e mais servidores da entropia tomarem seu lugar. Se Deus não joga dados com sua vida, a cidade é um Deus que não dá atenção para regras e joga todos os jogos de azar que você preferir.
 "Sai da frente, cuzão!" Um pombo passa voando e quase acerta meu rosto. Algum tempo depois, vejo que estes se reúnem em um enorme grupo em torno de uma xamã urbana que escuta de seus pequenos filhos de penas todas as informações que eles traziam de todos os cantos e curvas da cidade."Hoje um cuzão quase me atropelou enquanto eu estava voando. E ele não é daqui não, mamãe!"

 Há também o horrível demais para ser visto e ouvido, traduzido no silêncio dos grandes centros de compras assépticos e esterilizados. Não existe nenhuma anima nos ladrilhos lustrados e nas incessantes propagandas que, quando observadas com calma por magos do Caos que entraram desavisados, mostram sua verdadeira face voraz e Illuminati: "Consuma", "Durma", "Continue a andar", "Ame suas correntes". Há também os parques, ruas e galerias cheias de vida, sem deixar nada a desejar para a mais completa e complexa floresta tropical - um local perfeito para sumir na escuridão da noite e nunca mais retornar. Dos profundos poços de esgoto logo abaixo das calçadas sem fins da avenida Paulista, monstros feitos de puro caos se contorcem esperando uma vítima para cair no seu abismo de loucura - felizmente, temos a gradinha para nos separar deles.
 A vida não é fácil na selva de pedra, mas as pessoas continuam andando e evitam pensar. As pessoas na estação do metrô, tão estressadas, mal podiam perceber a multidão de fantasmas passeando pelos tuneis subterrâneos. Elas tem seus próprios fantasmas para atormentar suas vidas - a cidade é um baile de fantasmas, dia e noite, noite e dia.
 Termino o que tinha que fazer, arrumo as malas, piso na estação e vou conversando com os fantasmas do metrô, que me guiam até a linha certa."Boa sorte, cara, você não parece ser daqui!" Porra, nem os fantasmas conseguem decorar a cara de tanta gente. Dera eu conseguisse decorar todos os rostos, vozes e pombos da cidade - dera eu saber tudo que guarda este livro da cidade, ler todas suas crônicas, aprender todos seus versos.
  Dera eu ser mais um pombo, seus cuzão.


Won't someone tell me 'cause
Life (sweet life) must be (got to be) somewhere to be found (out there somewhere out there for me)
Instead of concrete jungle (Jungle, jungle, jungle!),
I said where the living is hardest (concrete jungle!).
Concrete jungle (jungle, jungle, jungle)
Man, you got to do your best (concrete jungle!)
Wo-ooh

No chains around my feet
But I'm not free
I know I am bounded in captivity; oh now
(Never known) Never known (what happiness is) what happiness is;
(Never known) I've never known (what sweet caress is) what sweet caress is yeah
Still, I'll be always laughing like a clown; (oooh-oooh-oooh)
Oh someone help me 'cause I (sweet life) -
I've got to pick myself from off the ground (got to be, out there somewhere out there for me)
In this ya concrete jungle (Jungle, jungle, jungle!):
I said, what do you got for me (concrete jungle!) now?
Concrete jungle (jungle, jungle, jungle!), why won't you let me be (concrete jungle!) now?

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